quinta-feira, abril 24, 2008

Eu erro, mas é pouco!

Depois daquela discussão véia besta sobre erros gramaticais, eu fiquei me perguntando se minha intuição havia falhado. Quando tenho dúvidas de português, eu penso na frase que minha mãe ensinou, tipo: "Quem beija, beija alguma coisa ou alguém". Aquelas regrinhas de VTD ou VTI, tá bem, verbo transitivo direto e indireto. Não lembro e não tô afim de pesquisar. Vai no sabe-tudo, o Google.

Eu fui! E de cara achei esse texto do
Hélio Consolaro. Cronista da Folha da Região (um jornal de Araçatuba/SP), coordenador do site Por trás das letras, professor de Português do Ensino Médio, autor de três livros e membro da Academia Araçatubense de Letras (isso está lá no site!). E transcrevendo tal e qual:

"Não é possível reduzir o ensino da língua em certo ou errado. Como também não se diminuem os erros em propagandas ou placas por decreto, estabelecendo multas. A questão é cultural. O verbo "assistir" tem duas regências que são aceitas por brasileiros de qualquer região, com variados graus de escolaridade.

A regência "assistir a" está franco declínio no português do Brasil, quase extinta. Nem os falantes cultos respeitam essa regra tradicional. Segundo o lingüista Marcos Bagno, "esse verbo passou por uma mudança semântica, isto é, uma mudança de significado, que provocou também uma mudança sintática, ou seja, no modo desse verbo se relacionar com as outras palavras da frase".

O mesmo lingüista afirma que em latim, assistir significava "estar junto a" alguma coisa, "comparecer a" algum lugar. Esse significado original se perdeu e o verbo passou a ser interpretado com o sentido de "presenciar", "ver", "observar", "freqüentar": assisti o filme; assisti uma briga; assisti o jogo; assisti um curso. Essa mudança corresponde às novas necessidades de expressão dos falantes, ela obedece às regras intuitivas de sua gramática materna. O uso do verbo assistir com objeto direto, sem a preposição "a", já está consagrado na literatura brasileira, além de ser amplamente usado por profissionais da língua escrita.

E Bagno completa: "Infelizmente, porém, a regência arcaica, obsoleta e moribunda continua sendo cobrada por algumas pessoas que se recusam a aceitar que a língua muda, como todas as outras coisas da vida do mundo"."

E estamos conversados! E me dá licença que eu vou ali assistir O filme, tá! Ô bicho otário!

Um comentário:

Unknown disse...

Estamos... Demais. Entretanto, continuo assistindo aos filmes.