sexta-feira, abril 25, 2008

O menino de rua e aqueles playboys bacanas

Falar de tudo que haviam conversado seria muito trivial, muito menos inteligente do que ele estava se acostumando a ser: um verdadeiro filósofo, como disse a menina importante que acabou de voltar. Era melhor recortar a história na sua parte mais insignificante.

Eu já vinha exausto de mais um dia chato de trabalho na rua. Passei por ali e vi aquele casal bem entrosado conversando. Eles pareciam isso, entrosados e encaixados. Mas não vi amor ou paixão naqueles olhares. Atrapalhei e pedi um cigarro. Ela me deu. Ofereceu o isqueiro e eu saí apressado pra tentar ganhar um último trocado qualquer. Mas o cara me chamou de volta. Olhou bem no fundo dos meus olhos (e ninguém olha nos olhos de um menino de rua) e disse: "Eu te conheço!". Eu lembrei do cara na hora, mas não conseguia acreditar que ele lembraria de um menino de rua em um dia tão banal.

Os caras playboys me chamaram e me puseram pra sentar na mesa deles naquele restaurante de bacanas. E os bacanas ficaram horrorizados, mas eles não permitiram que o segurança me tirasse dali. "Ele é meu convidado"! Eles riram e se divertiram demais com as minhas conversas mentirosas. E ficaram impressionados com a vida na rua, com quanto eu ganho engraxando sapatos e olhando carro, com a prisão do meu irmão e com o fato de eu te engravidado uma menina da minha mesma idade.

E ali naquela noite o cara lembrou de tudo isso. Se preocupou com meu irmão e se aliviou com o fato dele estar solto. Deu pra sentir o orgulho dele em ver que eu não havia fraquejado como ele. Perguntou pelo bebê e riu pelo fato deu estar pagando até pensão! E eu meio ainda desconsertado com aquele diálogo imprevisto, me apressei pra ir embora. Ele esticou a mão e me cumprimentou como a um dos playboys bacanas. Fui.

E quando já ia me perdendo de vista lá na frente, ele grita e, de novo, apavora os bacanas. Voltei. Ele tirou uma nota "graúda" da carteira de grife e me deu como um presente. Mas o mais massa foi sentir que aquilo não era uma esmola. Pareceu muito mais um prêmio, uma homenagem por eu ainda estar vencendo a vida. Fui de novo apressado e ouvi seu pensamento: "Esse garoto merecia uma chance de verdade".

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